Texto por Renata Azambuja
Imaginário do habitar, conjunto de fotografias de Janaína Miranda, está apresentado a partir de uma sequência singular. A série de fotografias nos conduz a uma entrada lateral que nos puxa para o abismo da morada íntima.
Se há um desvio, ele está nas imagens que de tão silenciosas, gritam. Mas nosso desejo de abrir uma fenda para enxergar o outro parece ser maior do que a vergonha de olhar para o que não nos pertence. E, então, olhamos.
Ao passar os olhos pela série de fotos me encanto com as possibilidades de leitura que elas me apresentam: posso correr os olhos por elas, ocidentalmente ou orientalmente, e isso me leva a pensar sobre como as histórias mais interessantes são aquelas em que se permite dar espaço ao direito e ao avesso, como duas faces de uma mesma vida.
As fotografias seguem um caminho em que conceitos desdobram-se em paralelo, mas integrados. Ora surgem como durações (as grandes fotos) que pertencem a uma existência – a árvore, a mulher, as palavras – ora como ínterins no tempo, na consciência e no sensível (as polaróides) – a água, o que está para ser lido, a paixão, o buraco da fechadura, o que ainda não se sabe.
Nesta sequência de imagens me deparo com pequenas certezas: a de que da árvore caída no meio da mata, desconsolada e seca, segue-se o frescor da água e do sol na cabeça do menino. De que na página captada, quase ao final da sequência, está escrito que arte é garantia de sanidade. Afirmação sobre a qual reflito e adiciono, como aquele que participa, vendo: [arte é sanidade porque nos mantém em conexão com o inominável]. A foto em branco.