Trabalho desenvolvido ao longo da Residência Artística Farol, realizada pelo Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, na Praia do Farol, Ilha de Mosqueiro/ Pará, durante a Pandemia de Covid-19. O trabalho consistiu na construção de um Farol, a partir de elementos encontrados na Casa Celina, casa da falecida poetisa Maria Lúcia Medeiros, que abrigou a Residência.
Andaimes de uma obra recém-realizada e uma escada, encostados no fundo do quintal, somaram-se ao candeeiro da poetisa, que estava abrigado no universo de sua biblioteca. Com o auxílio de Marcílio Caldas, também artista residente, erguemos a estrutura do Farol, que passou a compor a paisagem do quintal e a permear as experiências que ali se engendravam. Negociei com o Hotel Farol, patrimônio histórico da Ilha, que fica em frente à casa, para transportarem o nosso Farol do quintal para a Praia do Farol. Embora as chuvas monumentais do inverno Amazônico tenham quase impedido o intento, num entardecer e com apoio de algumas pessoas, o Farol chegou à Praia do Farol. Montamos a estrutura às margens da Ilha do Amor e subimos: meu filho e eu. Uma tempestade caiu. Retornamos ao Farol, mergulhado na escuridão, e, então, acendemos a chama do candeeiro.
Piscamos o nosso farol para darmos um sinal de que estamos vivos
Como erguer estruturas que viabilizem a existência para além da sobrevivência? Como falar da experiência profunda da maternidade solo atípica em meio a um processo de naturalização das opressões contra as mulheres? Erguer a si mesma, e a cria, como um ato escultórico-político. Para além de uma prática in-situ, que parte de elementos locais para instaurar novas relações, o Farol é uma narrativa micropolítica que tem como fundamento: escuta do lugar, negociações, redes, impermanência, materialização de devaneios, criação de espaços de afeto e potência, e afirmação da vida.